12 de fev. de 2012

VISÃO DE MODA ALIADA A INDÚSTRIA TÊXTIL



Trabalho há mais de 15 anos no ramo da moda e da confecção e ainda encontro pessoas  mais jovens  encantadas com o glamour e  impressionadas com as imagens dos desfiles , o luxo e a ostentação do Mundo Fashion.
Eu  realmente tomei de amores pelo ramo, mas não somente pelo luxo.  Com certeza nos meus 38 anos de idade isso não mais me impressiona.
É claro que tudo é feito para encher os olhos. É o marketing, a imagem visual, para atrair e deleitar os olhos dos consumidores, despertando os sonhos e  o desejo de compra.
A realidade por trás do glamour é bem diferente.
Os consumidores que não estão dentro do ramo não imaginam que aquela blusa, objeto de desejo, passou pelas mãos dos vários profissionais de moda. Estilo, modelagem, costura, acabamento, marketing, vendedores, lojistas... tantas pessoas... tantos profissionais.

Não imaginam o quanto o profissional de costura trabalha para criar as peças e o orgulho que nos causa quando cruzamos com alguém que esta vestindo uma de nossas criações. Não imaginam o quanto este profissional é desvalorizado e o preço disso é a mão de obra se tornando escassa.
Mesmo um desfile de moda, além dos valores envolvidos, gera um trabalho imenso, com uma equipe grande de profissionais para dar suporte as modelos, trilha sonora, passarela.... tudo para que o consumidor ache tudo muito lindo e compre o produto.
E o tempo...curtíssimo amigos, para que tudo isso ocorra . Quatro coleções, e muitas coisas acontecendo dentro das confecções para que este lindo produto esteja dentro de uma loja.
Amo a Moda...E já percorri o caminho desde a nascente.... Estudei e me formei em outras áreas e me encontrei na profissão. Não no glamour que ela mostra, mas sim na realidade que ela é.
Me chateia, quem não entende, discriminar a Moda. Ela não é nada superficial, uma vez que quem normalmente a critica a consome. Lembrando que falar em moda , não é só falar em roupa. Moda é tudo o que acontece, desde um Tablet que acabou de ser lançado que se torna objeto de desejo  ou aquela sapatilha com estampas de oncinhas desfilando nos pés das mulheres do momento.
Pra falar de Moda é preciso estar no ramo. Onde tudo começa a se criar. O desenho e a manifestação do desejo do consumidor por aquela criação. Os milhares empregos que isso gera. As centenas de profissionais que tornam o produto real. Que participam da realidade da Moda.
Não é por acaso que a Moda é um dos segmentos que mais emprega no mundo, no ramo têxtil e de confecção.
O Brasil tem um potencial imenso para manter seu espaço neste segmento. A valorização e treinamento do profissional de moda precisa ser visualizada pelas empresas.  O Brasil não é só Biquine e Carnaval.  O Brasil é criação e todos nós do ramo da moda temos o dever de afirmar isso ao mundo. Este espaço foi conquistado por muitos de nossos estilistas,  e precisam de reconhecimento mundial.
Estamos perdendo espaço para os outros países.... sim estamos, porém não devemos nos acomodar , mantendo a nossa qualidade, os produtos diferenciados, pesquisas, usar a riqueza de um país, sem afetar os recursos naturais. O Brasil é rico, não só pelas matas, pelos minérios ... Não.! O Brasil ´rico devido a seu povo, que mesmo explorado possui enorme força de continuidade e sobrevivência.
O brasileiro precisa valorizar os seus produtos, não só em matéria de dinheiro,  mas sim em acreditar no que faz. Acreditar na sua criação.

A industria têxtil tem capacidade de trazer para o mercado nacional produtos que supram esta necessidade. Não podemos colocar no mercado um tecido qualquer, com qualidade duvidosa, quando o mercado externo traz um produto melhor. Temos que nos superar. Se existe um caos no ramo têxtil , somos todos responsáveis por isso e temos o dever de promover as mudanças. E a palavra chave desta mudança é a Qualidade.
O menos é mais. Frase do minimalismo que eu adoro!
Crescer com planejamento. Porque até então, no ramo da moda e da confecção , só o que se pensava era ganhar, ganhar, e ganhar... e no fim o caos.
Ainda há chance para reverter esta situação, porque o Brasil é um país criativo. Romper os bloqueios entre a criação e a produção. Investir em tecnologia e treinamento. Incentivo profissional. Mas como?
Sabemos a resposta , mas poucos possuem a coragem de enfrentar. Alguns por motivos particulares, por estarem envolvidos até o pescoço na política do ganha a ganha, que é uma forma cômoda e viciosa  de acreditar que se pode sempre ganhar, e continuar ganhando em meio a este caos em que o ramo se encontra.
As mudanças são difíceis, mas são necessárias. Comecemos pela consciência de cada um .Onde erramos  e o que é preciso para promover estas mudanças. E por fim mudar. Promovam a mudança individualmente, num grupo, num todo. O importante é mudar. É ter a consciência de que é preciso mudar.

Uma frase que gosto muito e que marcou minha vida na confecção, onde tentei sempre a meu modo promover alguma mudança:

Uma visão sem ação não passa de um sonho.
Ação sem visão é só um passatempo. 
Mas uma visão com ação pode mudar o mundo”.
Joel Barker




Beijos a todos.

Kris Melo


2 comentários:

  1. Kris concordo com você em todas essas questões que você expos em seu texto. Porém não vejo um pingo de preocupação na "maioria" dos profissionais de moda.
    Vejo que os esforços dos nossos colegas das tecelagens serão em vão, se os designers/estilistas e empresários não perceberem que ao optar por um tecido da China, está causando desemprego em seu país, contribuindo para a falência das tecelagens nacionais, dentre outros...
    Mais eu, no meu pequeno espaço que tenho dentro do mercado de moda, incluo nas minhas coleções apenas tecidos nacionais,porém infelizmente são tecidos tecnológicos, que utilizam corantes sintéticos, estes que não são biodegradáveis,e que causam sérios riscos toxicológicos a saúde humana.
    Porque uma outra questão que me preocupa muito é a agressividade da indústria textil com o meio ambiente.

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  2. Sim Miriam, na verdade este problema acontece há tempos. Os donos de confecções não investiram nos profissionais, e só pensavam em lucrar... Em contrapartida os donos de tecelagens também pensavam no próprio lucro, não investiam e aplicavam preços altos, qualidade ruim, comprometendo um produto da confecção, que passou a buscar no mercado externo o produto diferenciado. Isso começo a se sentir agora. Cansei de ver tecidos com problemas nas tramas, no encolhimento, no tingimento, rolos e rolos comprometidos e as tecelagens querendo que aceitássemos os problemas. Melhorar a qualidade e com certeza os estilistas vão buscar produtos no mercado nacional. Eu apoio a indústria têxtil e muito. Melhorem os preços, brigando por uma baixa nos impostos e com certeza vamos ter um produto com preço justo e qualidade para oferecer ao consumidor uma matéria-prima competitiva com o mercado internacional. Pesquisas e investimentos poderão fazer com que se crie produtos que não agridam o meio ambiente. É preciso buscar, é preciso investir e batalhar por este espaço. Bjs

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