O vestuário de homem tem cada vez mais importância nos palcos internacionais da moda, como se pode confirmar nas passerelles da Semana de Moda de Nova Iorque. Uma atenção redobrada que acompanha o crescimento dos consumidores e do mercado, que supera já os 50 mil milhões de euros.
O vestuário de homem – a perene má relação da moda de senhora de topo – quer ter uma parte maior do bolo da moda, com cada vez mais retalhistas a entrarem no mercado de moda de homem, como refletiram as passerelles em Nova Iorque, que revelaram ainda um maior interesse dos homens americanos pela moda.
Nunca na vanguarda da moda americana, o vestuário de homem está a tentar recuperar, afirmam os especialistas de moda. Com o mercado de vestuário de homem de luxo a crescer a uma taxa de cerca de 14% por ano, ou quase o dobro do de vestuário de senhora de luxo, segundo a consultora Bain & Co, as apostas financeiras são altas. «O vestuário de moda de homem costumava ser uma espécie de piada, mas está a tornar-se numa verdadeira influência. Está a começar a ser o dobro do vestuário de senhora», revela David Wolfe, diretor criativo da consultora de retalho Donegar Group.
Uma demografia que antes era de «jovens conscientes de estilo e muito conscientes da marca, cresceu e trouxe a mesma sensibilidade de estilo e a marcas enquanto adultos», prossegue Wolfe.
Tom Julian, autor e especialista em tendências de retalho, sublinha o crescimento na arena em expansão de vestuário de homem – no valor superior a 50 mil milhões de dólares (37,82 mil milhões de euros) – para artigos como jeans, malhas e acessórios.
Julian cita grandes retalhistas como a Saks, que acrescentou um novo espaço dedicado ao denim, e o novo conceito Rugby da Ralph Lauren. «Há mais interesse em toques de alfaiataria para sportswear», indica. Desta forma, «o casual transformou-se. Casacos desestruturados ou em malha e casacos tipo camisolas e similares permitem a utilização em camadas e a individualização», acrescenta.
As coleções na Semana de Moda de Nova Iorque, altura em que centenas de designers mostraram as suas linhas Outono/inverno 2012-2013 para homem e senhora, revelaram isso. E tal como os desfiles de senhora, alguns dos quais mostraram modelos inspirados nos filmes da popular década dos anos 20 como “O Artista” e “Meia-Noite em Paris”, o vestuário de homem bebeu inspiração na série de televisão britânica “Downtown Abbey”, que decorre na véspera dos anos 20, com muito uso de veludo e camisas de colarinhos redondos.
Wolfe caracteriza os visuais como «muito mais bem-comportados que o “rocker rebelde”», enquanto Julien sublinha que «os homens abraçaram a cor de forma inesperada – uma camisa com um padrão colorido forte, calças coloridas, sapatos coloridos». Segundo Julian, «muitos homens hoje gostam da ideia de pegarem numa peça formal, como um blazer ou uma gravata e torná-la menos formal para brincarem com o seu visual».
O desfile ambicioso da Tommy Hilfiger refletiu as tendências vistas durante a semana: mangas e coletes acolchoados, muitas riscas finas horizontais, casacos de golas subidas de trespasse com camisolas de gola alta às riscas. Embora Hilfiger tenha mostrado muita pele, esta era mais macia, não ameaçadora e definitivamente não motoqueira. Casacos desestruturados sugeriam colegiais ingleses, enquanto as cores incluíram rosa velho, cinzentos e mostarda.
John Bartlett, que já esteve próximo de influências militares, mostrou coletes e calças xadrezes que sugerem pijamas e casacos que prestam homenagem ao clássico Hudson Bay da LL Bean. Mesmo os seus casacos de motoqueiro mostraram-se menos estruturados e mais suaves. Toques de amarelo e laranja avivaram ainda mais os visuais.
O xadrez esteve também em alta no desfile de Duckie Brown, que usou muitos tecidos como tweeds, em cinzento texturado e carvão. Tops sem mangas em crochet tipificaram muitos dos visuais pouco masculinos.
O desfile de Richard Chai foi dominado pelo denim e pela roupa de trabalho, com casacos e conjuntos numa gama de tons escuros de cinzento, preto e carvão.
«Mesmo os homens ricos estão a questionar se a moda é o melhor uso para o seu dinheiro», acredita Candace Corlett, presidente de estratégias de retalho da consultora WSO Strategic Retail. «Isso quer dizer que tem de haver uma réstia de utilidade, funcionalidade e longevidade – tem de durar algumas estações, até mesmo alguns anos e aguentar o quente e o frio das tendências», acrescenta.
Houve ainda mais xadrez e tecidos nubby na coleção de Robert Geller, que mostrou looks sobretudo em cinzento, carvão e preto. Os modelos inspirados na era eduardiana apresentaram grandes lenços ao pescoço, com as calças enroladas acima dos tornozelos. Um casaco tipo poncho foi emblemático de alguns cortes volumosos de alguns designers.
Na Rag and Bone viram-se mais riscas horizontais para calças, casacos e camisolas, enquanto os casacos contemplaram lapelas acentuadas que sugeriram as golas de xaile encontradas nas camisolas e vestuário de exterior de muitas coleções.
«Acabamos com o casual mais básico e movemo-nos para um casual mais formal», observa Wolfe. «As mudanças são subtis, sobretudo nas cores e tecidos, com as cores a tornarem-se mais ricas e os tecidos mais luxuosos. Nada é demasiado desafiador, o que poderia assustar o homem médio. Mas agora temos uma geração de homens que compram para si próprios em vez das mães ou mulheres o fazerem por eles», conclui.
Fonte: Reuters
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