26 de jan. de 2012

CAMPO MINADO NA LINGERIE


Algures entre a sua última Barbie e o primeiro namorado, as pré-adolescentes tornaram-se um mercado de nicho para as empresas de lingerie, que concorrem para assegurar as preferências destas consumidoras. Contudo, todos os cuidados são poucos para não se cruzar a linha invisível entre o que é ou não permitido.
 
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Campo minado na lingerie
 Criar soutiens para recém-adolescentes é um potencial campo minado para as marcas: um design demasiado arrojado ou um pouco de enchimento no lugar errado e podem ser acusadas de tornar as suas jovens clientes em pequenas Lolitas sexualizadas.
No Salon International de Lingerie (SIL), que teve lugar em Paris no fim-de-semana passado, uma dúzia de empresas tinha modelos pensados para adolescentes e pré-adolescentes – também conhecidas como Tweens – incluindo meninas de 9 anos. «Para meninas dessa idade, o principal desafio para as marcas é tornarem-se apelativas para as mães», revelou a responsável pelo SIL, Cecile Vivier. «Tem de transmitir confiança e não ser demasiado sensual», sublinhou.
A maior parte da lingerie para pré-adolescentes presente na feira de Paris jogava pelo seguro, com soutiens em forma de triângulo simples, sem renda, algumas vezes com soutiens de treino ou tipo top.
A Petit Bateau, especialista em roupa interior de criança em algodão, oferece às meninas entre os 12 e os 16 anos soutiens triangulares com um bocadinho de enchimento – que, afirma, se destina a esconder o mamilo e não a aumentar o tamanho do peito. «Para a maior parte das raparigas com essa idade, um primeiro soutien tem como objetivo esconder uma silhueta em mudança», explicou a diretora comercial de vendas por grosso da Petit Bateau, Muriel Mertz. «Tem tudo a ver com conforto e invisibilidade – não se deve ser capaz de ver o mamilo. Estamos ainda num mundo infantil, antes das raparigas se tornarem mais mulheres, mais sedutoras», acrescentou.
A Skiny, uma empresa austríaca que desenha roupa interior para «toda a família», também oferece soutiens para adolescentes, com cores fortes, direcionados para meninas com 10 anos e mais. «São feitos de forma cuidadosa – sem enchimento», indicou o diretor de vendas internacionais Stefan Breitband. «Não apostamos em lingerie sexy. Não há atitude», realçou.
A lingerie para tweens é um território arriscado: no verão passado a marca francesa Jours Après Lunes causou polémica com a uma linha dirigida a meninas entre os 4 e os 12 anos que foi acusada na Grã-Bretanha e nos EUA de sexualizar crianças pequenas. Apesar de os seus conjuntos de cuecas e soutiens, em preto e branco ou cor-de-rosa, serem inocentes, a campanha publicitária foi considerada ofensiva por mostrar crianças a exibirem a sua roupa interior, com adereços femininos como maquilhagem e pérolas. A fundadora da marca, Sophie Morin, ripostou afirmando que as suas roupas pretendem precisamente ultrapassar a falha entre «roupa interior em algodão simples e o mundo da lingerie, cujos produtos são demasiado sensuais para crianças».
Uma investigação nos EUA, divulgada no ano passado, concluiu que cerca de um terço do vestuário direcionado para raparigas americanas pré-adolescentes tinha «características sexualizantes» - como o uso de materiais brilhantes em vermelho ou preto, estampados leopardo, cortes que dão ênfase ao rabo ou à área do peito.
A loja americana para pré-adolescentes Abercrombie Kids tem sido acusada repetidamente de pisar a linha – em 2002 por vender roupa interior com “wink wink” (piscar de olhos) e “eye candy” estampado na frente, e no ano passado por ter vendido um soutien push-up para criança.
As preocupações com a adequação da lingerie pré-adolescente levaram um consórcio britânico a publicar diretrizes para os produtores que se direcionam para meninas, apelando a que evitem rendas e soutiens push-up. «Primeiro os soutiens devem ser pensados para dar conforto, serem modestos e fornecerem suporte mas não realçar», indica o texto publicado no ano passado.
Para complicar mais as coisas, o crescimento da lingerie para adolescentes coincide com uma tendência de uma antecipação do desenvolvimento físico das crianças, com muitas raparigas a atingirem mais cedo a puberdade.
Segundo um estudo americano publicado no jornal Pediatrics em 2010, 15% das raparigas americanas têm seios com sete anos, uma tendência semelhante a ser observada na Europa e na Austrália. O que está a causar a mudança não está completamente entendido, com os possíveis fatores a incluírem obesidade ou químicos no ambiente que afetam as hormonas – mas qualquer que seja a causa, o resultado é que muitas adolescentes precisam de verdadeiros soutiens desde muito novas.
A marca adolescente da Lise Charmel, Antigel, registou, nos últimos três anos, um crescimento de 46% das vendas para copas maiores, de D a G. «As meninas com um peito grande têm de ir a lojas de lingerie para mulher – cheias de rendas – o que não está bem para elas», afirmou Sophie Grimaud, a diretora de relações públicas da marca. «As raparigas destas idades querem cores, grafismos», indicou Grimaud. «Não estão a tentar mostrar o seu corpo», acrescentou.
A Antigel – que se direciona para um segmento ligeiramente mais velho, a partir dos 15 anos – conhece bem, contudo, o território da sensualidade, com uma oferta que inclui soutiens com decotes profundos e cintos de ligas.
De igual forma, a Cleo, uma marca para adolescentes mais velhas especializada em tamanhos de copa grandes, oferece cortes retro, com bolinhas e estampados dos anos 50 em soutiens e boxers. «Direcionamo-nos para raparigas confiantes, que se querem divertir com a sua lingerie e que não se querem sentir como a sua mãe», explicou Marlene Castanheira, diretora de vendas da Cleo, quando questionada sobre os looks mais sensuais no catálogo.

Fonte: AFP
 

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