Da moda ecológica de um designer que já vestiu Lady Gaga a um olhar futurista sobre o tradicional quimono e um desfile de streetwear que atraiu mais de 10 mil pessoas, a Semana de Moda do Japão colocou em foco a irreverência e a diversidade pelas quais Tóquio é, há muito, conhecida.
No ano passado, o evento da primavera foi cancelado devido ao terramoto e tsunami devastadores, que lançaram uma crise nuclear que levou a cortes de energia, mas o evento de outubro teve lugar nas datas previstas, e agora deu lugar à extravagância para o outono-inverno.
O desfile na passerelle de Tóquio destacou os estilos de rua, num esforço para focar as atenções nas marcas japonesas de pronto-a-vestir, numa altura em que elas próprias esperam chegar à cena internacional, numa produção de cinco horas direcionada para a juventude trendsetter do país.
«Acredito que com este desfile, o Japão, um líder da moda, tem o potencial para cruzar as fronteiras internacionais», revelou Natsuki Kato, modelo e atriz que pisou a passerelle no evento.
Cerca de 15 mil fãs saíram à rua para ver o desfile, que teve lugar num feriado nacional, bem no meio da Mercedes Benz Fashion Week, que decorreu até ao dia 24 de Março e apresentou designs para «consumidores de vestuário reais» em vez de figurinos avant-garde.
Entre os destaques esteve a presença de Kyary Pamyu Pamyu, que representa a chamada subcultura de moda de rua “Harajuku” (o nome de um bairro de Tóquio, popular entre os jovens), que engloba desde o gótico aos modelos que parecem vindos de um desenho animado.
«O que torna a moda Harajuku única é como as raparigas escolhem representar-se a si próprias com confiança, de uma forma que é agradável – não apenas de uma forma “gira” mas também com alguma ousadia», afirmou Kyary Pamyu Pamyu. «Por exemplo, tenho globos oculares e ossos na minha roupa. Não é apenas giro, é igualmente um pouco sombrio», acrescentou.
Num piscar de olhos à tradição, sendo a terceira geração de designers de quimonos, Jotaro Saito desvendou “Futurismo”, uma coleção que, espera ele, irá dar ao vestido tradicional do Japão um toque moderno.
Os modelos desfilaram na passerelle com as sandálias tradicionais, e com o cinto “obi” a cingir a cintura, mas os tecidos tinham linhas horizontais, xadrezes e, um ou outro, até bolinhas.
«O Japão tem coisas muito tradicionais mas o mundo ainda nos procura pela subcultura, como anime e jogos de computador. Uma cultura onde o novo e o clássico coexistem – penso que isso é fascinante», indicou Saito.
Apesar da enfâse na moda, as preocupações da nova realidade do Japão pós-catástrofe surgiram na passerelle.
Masanori Morikawa, que criou o fato usado por Lady Gaga no MTV Aid Japan Award 2011, introduziu um tema “verde” inspirado pelas preocupações ambientais e pela crise nuclear em Fukushima, a norte de Tóquio.
Morikawa, o designer por detrás da marca “Christian Dada”, que também dirige, mostrou uma coleção outono-inverno intitulada “Lost”. «Fui movido pelas notícias como as de Chernobyl e acontecimentos semelhantes e quis expressar através desta coleção a questão de se teríamos ou não um lugar a onde regressar», indicou.
Os modelos desfilaram sobretudo em preto sob luzes verdes como que sob um dossel florestal. Na passerelle surgiram as suas joias em pele, inspiradas pelo punk e que são já uma imagem de marca, que adornaram coletes, com novas adições de vestidos mini justos e em verde.
O desfile incluiu uma instalação visual no final, com uma gaiola de pássaro que se transforma num anjo a desvanecer – uma cena que aponta para o renascimento, segundo Morikawa. «Não quis que as asas do anjo tivessem uma direção específica mas quis mostrar que há a possibilidade de ir em qualquer direção», concluiu Morikawa.
fonte: Reuters
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