40 anos após o seu desaparecimento, Cristobal Balenciaga está em Paris. As criações do mítico estilista e um vasto acervo de elementos que serviram de inspiração para a sua roupa estão reunidos numa mostra única que revela o processo criativo do homem que celebrizou, na moda, a cultura espanhola.
O grande criador espanhol Cristobal Balenciaga, considerado uma influência incontornável da moda do século XX, acumulou um vasto arquivo pessoal que nunca foi tornado público até agora, 40 anos após a sua morte. A coleção eclética de documentos, trajes, fragmentos de materiais e até vestuário de bonecas foi doada ao Museu Galliera, o museu de moda de Paris, em 1979 e esteve nos seus arquivos desde então.
Agora, o diretor do Galliera, Olivier Saillard, teve a ideia de criar uma exposição da Balenciaga à volta destes arquivos, juntando as suas criações e algumas das suas fontes de inspiração, pela primeira vez no mesmo local.
«É muito aleatória, espontânea – reunida ao longo de uma vida, de viagens à volta do mundo, presentes de amigos. Não era um colecionador especializado», explica Saillard.
A mostra dá uma visão do processo criativo de um homem que viveu nos séculos XIX e XX, um perfecionista com a reputação de ser taciturno, enigmático, muitas vezes demasiado radical para os seus contemporâneos e profundamente influenciado pela cultura popular espanhola.
Coco Chanel dizia era o único costureiro, além dela própria, que dominava todas as técnicas, desde o corte do tecido à costura e Balenciaga continua a influenciar a moda de hoje, sobretudo na arquitetura e no volume das roupas, sublinha Saillard. «Inventou, pelo menos em parte, o vocabulário da moda do século XX. No entanto, o paradoxo é que foi muito alimentado pelo período anterior», acrescenta.
Balenciaga nasceu em 1895 no País Basco e a maior parte da sua coleção tem referências ao século XIX. Continuou fascinado pelas silhuetas, as capas e casacos, que cobriram e restringiram as mulheres, tentando, ao mesmo tempo, com os seus próprios designs, animá-las e permitir movimentos mais livres.
A exposição permite aos visitantes comparar os vestidos esculturais de cocktail com os tops bolero ou capas das linhas de alta-costura dos anos 50 com os seus conterrâneos históricos de 100 anos antes.
Saillard quis criar a atmosfera dos arquivos do museu, por isso muitos artigos são mostrados deitados, como estão armazenados. As confeções frágeis em rendas, muito bordadas com fios metálicos ou incrustadas com pérolas negras, estão em gavetas abertas ao fundo dos mostradores.
A coleção é também uma prova da paixão da Balenciaga pelos trajes regionais espanhóis, desde os toureiros às bailarinas de flamenco, onde foi buscar detalhes para os seus próprios designs. «Os vestidos de noite dele eram híbridos», indica Saillard. Os vestidos luxuosos tinham toques rústicos, enquanto as cores ricas dos ritos folclóricos – vistas, por exemplo, nas bandas de veludo usadas para decorar as varandas para as procissões religiosas – também inspiraram a paleta de Balenciaga. Mesmo os chapéus dos humildes pescadores da Andaluzia inspiraram um chapéu que chegou à capa da revista Vogue. Os paramentos religiosos numa muito devota católica Espanha foram retrabalhados em casacos formais que fizeram com que as mulheres parecessem pequenos cardeais, destaca Saillard.
A exposição decorre até 7 de outubro no Les Docks, um novo complexo de design no Quai d'Austerlitz perto do Sena.
Fonte : AFP
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