1 de jun. de 2013

É tempo de vestidos

O vestido feminino ao estilo dos anos 40 está de volta ao guarda-roupa das mulheres em todo o mundo, com a sua simplicidade e elegância a torná-lo numa peça de referência, quer no exigente mundo laboral, quer num ambiente mais informal com a família ou amigos.
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É tempo de vestidos
 Com a chegada das temperaturas mais altas, o vestido volta a ocupar o centro das atenções – mas não um vestido qualquer. É o vestido elegante, cintado, com saia pelo joelho, normalmente floral, que se tornou numa alternativa de verão ao fato de saia e casaco.
Este tipo de vestido pode historicamente lembrar imagens de uma dona de casa dos anos 40, com o cabelo emproado e sapatos com pequenos saltos, atrás de uma vedação branca, mas a versão de hoje é o oposto do vintage, como mostra a versão floral da Bottega Veneta, misturada com tachas, o da Valentino, com pele de cobra e renda, e o look duro em couro da Loewe. Depois há o estilo azul da Etro com um corte sensual nas costas e o mini vestido em popelina branca da Balenciaga. Juntos acrescentam algo ao guarda-roupa de uma mulher forte, o que explica talvez o motivo pelo qual figuras do poder como a Primeira-Dama Michelle Obama e a editora da Vogue Anna Wintour são fãs.
Kerry Taylor, leiloeira de moda, revela que «uso vestidos a toda a hora porque adoro o look retro. Os vestidos são diferentes do que há na rua. São formais, bem estruturados, bem cortados e fáceis de usar».
Taylor não é obviamente a única a gostar deste que é um dos estilos mais versáteis. O vestido com estampado floral em verde esmeralda da Giambattista Valli esgotou em apenas uma semana na retalhista on-line mytheresa.com, enquanto o vestido floral desbotado em seda da dupla britânica Clements Ribeiro é o artigo que mais rapidamente está a vender na marca.
«A forma como o vestido é conjugado pode mudar completamente o visual», afirma Stuart Vevers, diretor criativo da Loewe. «Quer seja completamente tapado e elegante ou aberto para um look mais sensual, é muito versátil», acrescenta.
Sarah Armitage, especialista no agendamento de celebridades, afirma que «o meu vestido é uma peça com que não tenho de me preocupar. Simplesmente visto-o com um par de sapatilhas giras para festas com os amigos ou saltos altos para Ascot e estou pronta. Também uso este tipo de vestido no trabalho. São elegantes mas divertidos, por isso não perco a minha personalidade. Simplesmente uso um casaco mais formal para um look mais empresarial», acrescenta.
Com efeito, é esta facilidade de vestir que a designer Tory Burch acredita ser responsável pelo renascimento deste tipo de vestido. Burch, cujos vestidos variam dos visuais estruturados em tecido de algodão fino a organza bordada, acredita que as mulheres estão a preferir este tipo de vestido como uma solução simples nas suas vidas agitadas – entre gerir carreira e família, precisam de peças com estilo que exijam pouco esforço. Burch sabe do que fala, já que tem de equilibrar um negócio avaliado em 2 mil milhões de dólares (cerca de 1,55 mil milhões de euros) e educar três filhos – tudo enquanto usa, muitas vezes, o seu vestido favorito com grafismos em vermelho, preto e branco e um cinto em couro.
É irónico, claro, que esta solução surja de uma peça de vestuário popularizada quando muitas mulheres estavam presas à cozinha, mas essa é a forma clássica da moda se revelar: transformar o símbolo de servidão de uma geração em veículo de libertação para outra.
Juntamente com este tipo de vestido, outro paradigma da feminilidade são as armações ou crinolinas, usadas para conferir uma forma arredonda por baixo dos vestidos ou saias. Voltou às luzes da ribalta graças a influências da moda tão díspares como a personagem Lady Mary, de Downton Abbey, com os seus vestidos em camadas, e Beyoncé, que usou uma saia com crinolina da DSquared2 na tournée Mrs Carter.
As crinolinas são também celebradas na RetroSpective, uma nova exposição em Nova Iorque que analisa a influência da história da moda em designers contemporâneos. Jennifer Farley, curadora da exibição, sustenta que «a forma em ampulheta é o arquétipo da feminilidade e do corpo feminino».
Algo que fica provado nas atuais coleções. Armações apareceram em saias transparentes na Alexander McQueen, a Dolce & Gabbana apresentou versões em vime e a Comme des Garçons criou formas em crinolina para camadas enrugadas. Raf Simons, para a Dior, esculpiu uma saia floral em azul metálico. Depois há o dramático mini-crini em preto da Lanvin, o vestido em feltro e couro da Rodarte, com uma saia com crinolina em organza de seda, o vestido em tweed de Oscar de La Renta e a saia com bordado inglês e sobreposição de plástico transparente de Simone Rocha.
Vivienne Wetswood tem sido sinónimo do visual desde que o revolucionou como o mini-crini em 1985, num desfile que estará em exposição na exibição de moda dos anos 80 no Victoria and Albert Museum, e incluiu o vestido de noite metálico na sua atual coleção “Gold”. «Nunca houve uma moda inventada que fosse mais sensual. Estes vestidos dão uma postura de bailarina e são muito elegantes», considera a criadora britânica.
Embora as anteriores reencarnações tenham sido literais, as crinolinas de hoje são mais subtis. Os designers têm experimentado com proporções, como as formas triangulares na atual House of Worth, criadora da crinolina do século XIX, e novos tecidos, como neoprene, que pode ser moldado numa forma. O designer americano Thom Browne, que criou armações de crinolina com faixas multicolores sobre um conjunto de casaco e calças xadrez, considera que «não tem tanto a ver com a crinolina mas com o avesso para o tornar mais bem divertido, surreal e interessante».
A mostra RetroSpective está no Fashion Institute of Technology em Nova Iorque até 16 de novembro.
Fonte: Financial Times

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