26 de mar. de 2013

As voltas da renda


Da passadeira vermelha nos Óscares às personagens da série Downton Abbey, sem esquecer o vestido de noiva da Duquesa de Cambridge, a renda é uma das grandes tendências de moda para este ano, embora por motivos diferentes dos que vestiram os nobres ingleses e russos em séculos passados. 

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As voltas da renda
A renda está a ter o seu momento sob os holofotes. É um material-chave nas coleções de primavera-verão que estão agora a chegar às lojas e está regularmente na televisão, cortesia da personagem Cora, Condessa de Grantham, em Downton Abbey, com as suas blusas em renda com contas – sem mencionar os vestidos de Lady Mary e a Lady Edith ao jantar, em confeções refinadas de seda e renda. Mas não é só na televisão, numa série de época, que a renda tem vindo a dar “um ar da sua graça”. Na passadeira vermelha, revelou-se no vestido branco de Alexander McQueen usado por Amanda Seyfried (que alegadamente fez com que a sua colega de elenco no filme les Misérables Anne Hathaway desistisse de um vestido, também em renda, da Valentino em favor do vestido Prada rosa que usou) e o vestido preto em renda e lantejoulas criado por Jenny Packham para Adèle.
Uma nova exposição, “Treasures of the Royal Courts”, que apresenta artigos das cortes dos séculos XVI e XVII dos Tudors, Stuarts e dos czares russos, abriu as portas no Museu Victoria and Albert (V&A) em Londres, destacando as origens da atratividade, aparentemente eterna, da renda, numa mostra que estará aberta ao público até 14 de julho.
Nessa altura, porém, como explica Clare Brown, curadora de têxteis europeus no V&A, a renda era o epítome do poder, com os rufos neste material a serem a sua afirmação mais visível e fashion. «Os rufos em renda focavam a atenção na cara e mostravam o dinheiro que os utilizadores tinham, porque a renda era cara, feita à mão e exigia muitas horas de trabalho», acrescenta.
Hoje a história é ligeiramente diferente. «Enquanto nos séculos XVI e XVII, a renda tinha a ver com poder político, agora serve para as mulheres afirmarem a sua feminilidade», afirma Maud Lescroart, coproprietária da produtora francesa de rendas Sophie Hallette, que forneceu a renda para o vestido de noiva da Duquesa de Cambridge (outra grande influência da renda) e para as coleções de primavera 2013 de Alexander McQueen, Mulberry, Yves Saint Laurent e outros designers.
Roberto Cavalli, por exemplo, usou renda fina Chantilly em vestidos compridos e em calças, tops e vestidos néon para a primavera-verão. Como explica o designer, «a renda representa a suavidade e inocência e nem sempre isso é visível na moda».
Mas embora a renda possa ser suave e delicada, como nas mãos de Cavalli, pode também ter um lado mais duro. «A renda pode ser agressiva», considera o jovem criador britânico Nicholas Oakwell. «Já não floral ou recortada mas colocada em tecidos pesados e grossos, adornada com contas, aplicações e até com borracha».
Como explica Carmen Borgonovo, diretor de moda do My-wardrobe.com, «já não há regras para a renda. Pode ser justaposta com uma peça clássica como uma t-shirt ou vir com cores fortes – não apenas preto e branco».
A nova oferta da retalhista britânica Topshop inclui tops, calças clássicas e vestidos com renda. Emma Wisden, diretora da moda, diz até que a renda substituiu as lantejoulas e o strass como o adorno preferido da moda.
A renda está, de facto, em todo o lado nesta estação – há o jumpsuit com renda verde floral de Valentino, as calças em denim rendado da Dsquared2 e a gabardina com renda verde da Bruberry Prorsum, assim como o vestido em rosa sorvete com mangas em renda macramé da Miu Miu. O vestido com renda floral rosa da Balmain com mangas de três quartos esgotou numa semana na mytheresa.com, uma retalhista de luxo on-line, e há uma lista de espera para o vestido com um ombro em renda preta com seda verde floresta da Lanvin, apesar do seu preço quase proibitivo superior a 5.250 euros.
A renda é ainda cara, apesar dos designers argumentarem que os preços são justificados. Antonio Berradi acredita que o aspeto feito à mão do material torna-o mais próximo de uma peça de joalharia do que de vestuário e a sua múltipla personalidade dá-lhe uma atratividade generalizada. Hannah Teare, stylist para a Vanity Fair e para a Town and Country, que recentemente usou um vestido roxo Jacques Azagury com um decote profundo para a próxima campanha publicitária da Graff Diamonds, considera que «a renda pode acrescentar um toque diferente a um fato ou uma saia para fazer com que as pessoas se destaquem numa multidão».
Para aqueles que estão preocupados com o seu valor como peça de investimento, sublinhe-se que os desfiles para o próximo outono-inverno também incluíram uma quantidade considerável de renda, desde os visuais de Alberta Ferretti aos vestidos-lingerie com renda da Louis Vuitton e aos vestidos camiseiros acabados com renda de Stella McCartney. A culminar estiveram os rufos com pérolas que adornaram 10 looks na coleção da Alexander McQueen, que ficariam tão bem no V&A como ficaram na passerelle. Como prova de uma tendência do passado e do futuro, é difícil ser mais convincente.
Fonte: Alexandra Costa

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