17 de mar. de 2013

A cultura do punk


O MET irá, a partir de maio, acolher uma exposição sobre o punk, um estilo praticamente afastado da passerelle da última Semana de Moda de Nova Iorque, onde criadores conhecidos pela elegância das suas propostas, como Carolina Herrera e Diane Von Furstenberg, mostraram um inverno cheio de glamour.  

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A cultura do punk
Depois de 40 anos de existência, o punk será o tema de uma exposição do Metropolitan Museum of Art (MET). Com um cenário de roupas rasgadas e com alfinetes de segurança, incluindo t-shirts de Vivienne Westwood com Malcolm McLaren e coordenados mais requintados de Zandra Rhodes e Gianni Versace, a mostra abrange o estilo do mais ao menos refinado.
«Acho que é fantástico – o abraçar da abrangência e do respirar de uma cultura, como na arte», afirma Thomas P. Campbell, diretor do MET, enquanto Andrew Bolton, curador da exposição “Punk: Chaos to Couture”, que abre a 9 de maio, fala da «promessa, objetivo e prospeção» de um estilo de rua que cresceu de uma cultura de «não futuro».
O estilo celebrizado por figuras como os Sex Pistols ficou à porta da Semana de Moda de Nova Iorque, espelhado apenas na localização de alguns desfiles do evento, com o espírito das propostas dos criadores para o próximo inverno, que subiram à passerelle nova-iorquina na mesma altura que o anúncio da exposição, a ficar longe do punk.
Carolina Herrera – sempre uma figura da moda com classe – usou a colaboração com a Orquestra Contemporânea de Londres para criar uma faixa de “Capriccio for Carolina”, que foi a banda sonora do seu desfile.
Numa altura em que Tommy Hilfiger, anteriormente o designer dos músicos de hip-hop, se rendeu ao estilo “Ivy League encontra-se com Savile Row”, ficou claro que o chique está na moda.
Ironicamente, foi Diane Von Furstenberg, regressando aos seus anos loucos hippie deluxe da década de 70, com um convite intitulado Glam Rock, que ficou mais próxima de um certo sentido de rebeldia na moda.
Os americanos podem não ter votado em novembro passado para uma viragem à direita, mas os designers parecem estar a olhar para essa área. Derek Lam, uma das raras personalidades a focar-se no sportswear americano, fala de «elegância escondida» de volta aos visuais estilizados dos designers Halston e Zoran.
O desfile de Carolina Herrera foi elegante, refinado mas não exageradamente – apesar de aplicações abundantes de pelos em cores de joias terem decorado silhuetas justas e vestidos de noite. Ao seu corte sem falhas e tendência para a perfeição, Herrera acrescentou toques de imaginação, uma certa aura dos anos 40 e do velho Oriente, oferecendo o perfume de um passado chinês decadente. Mas a criadora tem a capacidade de tornar as flores digitais e os padrões gráficos angulosos parecerem contemporâneos para os ricos em todo o mundo.
No grande rio de vestuário polido, os coordenados de Diane Von Furstenberg (DVF) surgem como um choque, com cores fortes, padrões ousados, sandálias de plataforma com estampados animais e até modelos a sorrirem!
Nesta viagem pelo vale da memória, o vestido cruzado de DVF teve novamente o seu momento, mantendo a consciência do corpo sobre a qual a criadora construiu o seu nome e fama. Acrescente-se calças suaves, com brilho e glamour, e foi como se os dias de glória de Yves Saint Laurent nos anos 70 estivessem de novo na passerelle.
O problema com a nostalgia é que muitas vezes significa mais para o instigador do que para o resto da plateia – sobretudo na moda. Daí a designer ter percorrido a passerelle a dançar como se o Studio 54 ainda estivesse aberto e parecendo fabulosa vestindo os seus próprios designs. Como escreveu nas suas notas, «a vida é uma festa» – embora um mundo endividado e com as atuais manifestas dificuldades tenha, talvez, dificuldade em ver isso.
O cenário montado para o desfile de Tommy Hilfiger foi uma obra de arte: um pano de fundo pintado com livros em prateleiras como uma biblioteca e uma parede com brasões, todos dedicados ao designer.
Com esta grandeza, não admira que o xadrez Príncipe de Gales tenha sido o favorito entre os muitos estilos “verdadeiramente britânicos”. O xadrez foi mesmo abstratizado e usado em padrões de blusas.
Foi um pouco exagerado – mas bem executado e sofisticado com peças individuais, quase inteiramente outerwear. O chão xadrez deu outra dimensão ao quadro gráfico da coleção. E um sorridente Hilfiger revelou a sua inspiração: «Tommy Nutter», indicou, referindo-se ao alfaiate dos anos de Swinging London que fez com que os aristocratas parecessem chiques e na moda.
O visual de Derek Lam foi uma interessante mistura entre racionalização e artesanato, o que significou capas elegantes e calças bem cortadas intercaladas com patchworks subtis num corpete ou um efeito de renda na saia. Franjas em lã a pender das bainhas da saia acrescentavam a sugestão de feito à mão na Califórnia dos anos 70.
Os diferentes elementos, incluindo couro e pelos, foram subtilmente trabalhados em conjunto, com um vestido comprido ao estilo Halston no final, com uma capa a destacar o clássico modernismo americano em conjunto com sportswear refinado.
Thakoon fez um jogo delicado com looks chiques. Por um lado, com a ideia de abertura de vestidos com painéis em renda ou decorados com o motivo recorrente de uma libelinha. Por outro lado o pelo, usado com painéis na frente de uma peça, como se tivesse tirado um velho pelo do armário da avó e o tivesse colocado à volta do peito. Fez uma coleção agradável sem nenhum ponto de vista forte.
«Suave e severa», afirmou Zac Posen nos bastidores, provocando as modelos enquanto estas mudavam de vestidos que se abriam na bainha para uma silhueta corporal tensa. O designer é mais um decorador do que um arquiteto, mas com um sentido artístico da cor que misturou o laranja com o roxo e decorou um vestido amarelo canário com bordados. Com o desfile no Plaza Hotel, Posen solidificou a sua posição como um designer de gama alta. E se ainda há bailes para vestir e dias em que um casaco bege com uma volta plena tenha primazia, o designer está pronto.
Com o comércio eletrónico a ser em tópico quente no mundo da moda e os estampados digitais a constituírem um visual atual, a visão multicolorida de Nova Iorque, gerada por computador e projetada no desfile da DKNY pareceu promissora. No entanto, houve uma falha entre a imagem dramática digital e as roupas tons de terra da coleção. Mesmo os fatos camel e preto ou o couro preto no início do desfile pareceram estranhos com as cores fortes no ecrã. E embora tenha havido estampados animais ousados, houve pouco no jogo de duro-suave, como o casaco clássico com um toque de chiffon, que ligasse esta coleção de peças usáveis com o energético mundo ligado à web.
Fonte: NY Times

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