6 de jan. de 2014

Um guarda-chuva de luxo

Indispensável nos próximos dias, a crer nas previsões do Instituto de Meteorologia, o guarda-chuva é um acessório de moda muitas vezes menosprezado, mas que Michel Heurtault elevou ao estatuto de artigo de luxo, criando verdadeiras obras de arte que passam de geração em geração. 

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Um guarda-chuva de luxo

Facilmente partidos e muitas vezes perdidos, os humildes guarda-chuvas não são muitas vezes vistos como artigos de luxo, Mas para o francês Michel Heurtault, cujas criações podem atingir os milhares de euros, é isso mesmo que eles são. O artesão de 48 anos usa os melhores materiais para os seus guarda-chuvas e guarda-sóis, que são feitos para durar e passar de geração em geração.
Apesar dos seus preços elevados, a loja de Heurtault em Paris atrai clientes de todo o mundo – uma princesa do Qatar escolheu uma pega de guarda-chuva com chagrém, uma espécie de couro, com um valor superior a 8 mil euros.
«Os guarda-chuvas sempre foram a minha paixão», afirma Heurtault. «Eram o meu brinquedo favorito quando era pequeno. Era fascinado por eles – o que a minha mãe achava muito estranho!», revela, lembrando como os costumava desmontar e usar as peças de dois para criar um único guarda-chuva.
Michel Heurtault criou o seu negócio apenas em 2008, mas algumas das suas ferramentas têm mais de 100 anos. O cenário é também especial, num arco elegante do século XIX de um antigo viaduto sob a linha de comboio no leste de Paris, que alberga muitas lojas chiques de artesãos reconhecidos.
«Todos esses guarda-chuvas são feitos na China», afirma à medida que vê os peões passarem pela loja, num dia chuvoso. «Aqui, tudo é feito à mão, o que é único», sustenta Heurtault, que também restaura e cria guarda-chuvas para a indústria cinematográfica.
O sócio de Heurtault, Jean-Yves Thibert, diz que os australianos e os japoneses são «fanáticos por guarda-sóis», enquanto os guarda-chuvas têm mais seguidores nos EUA e na Europa, sobretudo na Áustria e na Alemanha.
O artigo mais barato para senhora custa 250 euros e é feito em seda, com uma pega revestida a couro. Para homem, o mais barato custa 490 euros, o valor de um guarda-chuva elegante em twill de seda com uma pega em madeira de ácer. «Não encontra este tipo de acabamento em mais nenhum sítio», garante Thibert.
Michel Heurtault desespera, contudo, com a cultura de deitar fora de hoje. «As coisas estão a tornar-se cada vez mais baratas, não duram, quebram facilmente e são descartáveis. Estes guarda-chuvas são feitos para durar gerações», sublinha. «Nos anos 50, as pessoas não perdiam os guarda-chuvas, cuidavam deles», observa. «Hoje uma rapariga compra um guarda-chuva por 10 euros, ele parte-se e ela compra outro por 10 euros. Claro que não dura».
Heurtault faz as coisas de forma diferente. Os clientes podem optar por guarda-chuvas personalizados, escolhendo a pega, o tecido, o padrão e a madeira. «Isto é o verdadeiro luxo, não é standardizado», destaca Thibert, mostrando várias pegas antigas adquiridas um pouco por toda a França. Uma é feita de marfim com incrustações de pérolas.
No seu trabalho para a indústria cinematográfica Heurtault fez recentemente guarda-sóis para uma versão do filme Cinderela, com Cate Blanchett, e para um recente filme de Woody Allen.
«Os figurinistas em filmes de época recorrem a mim porque não têm outra escolha. Estes métodos tradicionais perderam-se», lamenta Michel Heurtault, que começou a sua carreira como figurinista, trabalhou para a ópera e fez corpetes para Christian Dior.
O artesão foi recentemente nomeado Master of Art, uma homenagem da França aos seus artesãos profissionais altamente qualificados. «É a maior honra para um artesão», afirma com orgulho. «Vejo-o como um enobrecimento com base no mérito», conclui.
 

Fonte: AFP

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