30 de out. de 2012

Sari brilha na passerelle


Empenhado em trazer de volta o sari para os guarda-fatos das mulheres indianas, o designer Sabyasachi Mukherjee apresentou uma nova coleção desta icónica peça de vestuário, com modelos simplificados que permitem uma adaptação aos tempos modernos e à correria do dia-a-dia. 
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Sari brilha na passerelle
Enquanto as manequins em saltos plataforma deslizam em frente aos flashes das câmaras ao som de U2, Sabyasachi Mukherjee estuda o progresso da sua campanha para trazer o sari do fundo dos armários para a passerelle. «Demasiadas mulheres pensam no sari como algo que é muito antiquado e não moderno», explica o galardoado designer indiano. «Quero dizer-lhes: “o sari é lindo, é único e é exótico para todo o mundo”».
Os esforços de Mukherjee para modernizar o sari com a utilização de tecidos pouco usuais como veludo, ao mesmo tempo que mantém a sua silhueta icónica, está a alimentar a revitalização desta veste tradicional. Provavelmente o designer de moda indiano mais bem-sucedido – cuja marca tem um volume de negócios anual de 11 milhões de euros –, Mukherjee, de 38 anos, tem uma verdadeira paixão por esta peça de vestuário.
As mulheres jovens, orientadas para a carreira, têm empurrado o sari para o fundo do armário, considerando-o difícil de prender e inadequado para os seus estilos de vida preenchidos.
Tendo feito nome com os seus minivestidos, Mukherjee colocou mais recentemente os seus esforços a desenhar saris já com pregas e fáceis de prender que são ao mesmo tempo bordados cuidadosamente.
«Quando era jovem, migrei para o vestuário ocidental», revela. «Demorei algum tempo a perceber que isto era o que queria fazer, que queria influenciar os indianos a usar novamente o vestuário indiano».
O designer iniciou a sua empresa, sediada em Kolkata, com dois alfaiates em 2001, pedindo um empréstimo de 400 dólares (cerca de 310 euros) à irmã. Um sucesso imediato entre os círculos de moda indianos, usou têxteis indígenas para desenhar minivestidos, que foram vendidos em lojas de topo em Londres, como o Selfridges.
Apesar da mudança de foco, a sua popularidade não diminuiu e o seu mais recente desfile de moda teve casa cheia.
Após uma popular atriz de Bollywood ter passado na passerelle, vestida num sari em tule, um conjunto de manequins apareceu, muitas usando os saris pré-pregueados cobertos por aplicações em rendas e com saltos altos como acessórios.
Faz tudo parte do esforço para atrair uma clientela mais jovem e mais consciente do estilo, refere Mukherjee. «Sou um purista de coração, gosto dos saris tradicionais. Mas muitas vezes brinco com o sari para manter as pessoas interessadas, modificando-o de formas subtis», acrescenta.
Mukherjee  feztambém várias incursões em Bollywood como parte da sua campanha para restaurar a supremacia desta peça de vestuário no guarda-roupa das indianas. Para além de vestir atrizes principais incluindo a antiga Miss Mundo Aishwarya Rai e Vidya Balan nas suas presenças na passadeira vermelha, desenhou fatos para vários filmes indianos.
Segundo Shefalee Vasudev, autora e editora fundadora da Marie Claire India, Mukherjee é um visionário da moda. «Ele percebeu que na tempestade de marcas mundiais e muito brilho, nada se irá destacar. Se toda a gente tiver Louis Vuitton e Hermès, vão precisar de mais alguma coisa para sobressaírem da multidão», indica.
Hoje, os seus saris – que têm preços entre os 130 e os 9.260 dólares – constituem mais de 50% do volume de negócios de Mukherjee.
Numa das lojas do designer em Deli, saris de algodão, seda, tule e organza são mostrados num cenário sugestivo de uma Índia que já não existe, com dezenas de relógios antigos e fotografias vintage nas paredes. «O sari tradicional indiano é muito difícil de entender e usar. É aborrecido de usar», considera a cliente de há muito Kirti Sharma, de 26 anos, acrescentando que possui vários saris Sabyasachi. «As blusas são simples. Às vezes as pregas já estão feitas, por isso é só enfiar e está pronta a sair. Coisas como estas tornaram-no muito simples», afirma a cliente.
Mukherjee planeia abrir mais lojas na Índia, onde tem atualmente quatro, antes de se expandir para o estrangeiro daqui a alguns anos.
«É o maior erro os designers indianos ignorarem o sari. As marcas ocidentais têm muito mais experiência com o vestuário ocidental e podem basicamente obliterar a concorrência local quando entram no nosso mercado», considera.
Desde que deu um impulso ao sari, vários outros designers indianos fizeram experiências com a peça de vestuário, usando materiais como elastano e couro.
Especialista em moda afirmam que o sucesso de Mukherjee reflete uma emergente autoconfiança entre os indianos, que estão desejosos de manterem o seu passado numa altura em que o país atravessa mudanças significativas.
Vasudev considera que o seu sucesso entre as mulheres indianas mostra que «bem dentro de nós ainda queremos uma peça do guarda-roupa da nossa mãe ou da nossa avó». E acrescenta: «não estamos tão confortáveis com o vestido mais curto, com o pequeno vestido preto. E se estamos, temos de ter uma peça da Índia também».

Fonte: AFP

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