17 de ago. de 2015

Zara na linha de fogo

Depois da recente polémica que envolveu um advogado da divisão americana da Zara, acusado de discriminação religiosa e sexual, a cadeia de moda é agora acusada de segregação racial dentro e fora de portas. Umas acusações que a divisão da retalhista espanhola nos EUA refuta com veemência.
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Zara na linha de fogo
Um relatório recém-publicado sugere a existência de uma cultura corporativa assente no preconceito racial. O grupo de defesa laboral do Centro de Democracia Popular inquiriu funcionários de retalho da Zara em seis das sete lojas nova-iorquinas da retalhista espanhola na primavera passada, na sequência de alguns escândalos relacionados com projetos insensíveis por parte da cadeia de moda, como uma camisa de criança que se assemelhava a um uniforme do Holocausto.
O grupo, apoiado pelo sindicato, assegurou a participação de 251 dos cerca de 1.500 trabalhadores das lojas Zara em Manhattan, descrevendo os entrevistados escolhidos como uma «amostra aleatória». Os poderes corporativos da Zara não participaram na pesquisa, refutando as conclusões, que denominam de «infundadas».
Entre as reivindicações, o estudo afirma que os clientes negros são muito mais propensos a ser considerados potenciais ladrões do que os clientes brancos. O relatório descreve a prática da empresa de se referir a potenciais ladrões como «encomendas especiais», conduzindo à discriminação racial dos clientes negros assim que eles entram na loja.
«A maioria dos funcionários definiu amplamente o termo “encomenda especial” como um código que é usado quando alguém “suspeito” – "um ladrão em potencial” - entra na loja», diz o estudo. «Uma vez que uma “encomenda especial” é detetada e que o cliente é descrito através dos intercomunicadores, os funcionários e gerentes seguem esse cliente».
Quase metade dos trabalhadores inquiridos pela Zara (43%) não respondeu a perguntas referentes a “encomendas especiais” ou afirmaram não estar familiarizados com o termo. Dos 57% que responderam, no entanto, 46% revelaram que os clientes negros eram assim denominados “sempre” ou “muitas vezes”, em comparação com 14% dos compradores latinos e 7% de clientes brancos.
«A maioria dos funcionários acredita que os clientes negros estão codificados como potenciais ladrões numa taxa superior à dos clientes brancos», lê-se no documento. «Os funcionários afirmaram que as encomendas especiais são identificadas por se “vestirem de uma determinada maneira” e são “principalmente afro-americanos”. As encomendas especiais são também definidas como “qualquer um que pareça negro, não arranjado ou urbano”».
O Centro observou que a discriminação racial em ambientes de retalho não é nova, descrevendo desconfiança e discriminação como parte da experiência de “compra sendo negro”. «Esse preconceito permanece apesar do facto dos brancos representarem 68% dos prisioneiros adultos acusados de furto ou roubo», aponta o relatório, citando dados do FBI.
Em 2013, os grandes armazéns nova-iorquinos Macy’s e Barneys foram escrutinados pelo procurador-geral do estado, na sequência de compradores afro-americanos terem sido injustamente questionados por fraude de cartão de crédito depois de realizarem compras avultadas.
Após esse incidente, o reverendo Al Sharpton reuniu-se com o CEO dos grandes armazéns Barneys, Mark Lee, para debater formas de acabar com uma prática que o ativista dos direitos civis apelida de «loja e travessura». Ambos os casos foram concluídos em 2014.
O estudo realizado também detetou insatisfação face a situações de discriminação racial entre os trabalhadores da Zara. As conclusões do relatório indicam que os funcionários afro-americanos demonstram o dobro da insatisfação face à sua carga horária em comparação com os funcionários brancos. Afirmam, simultaneamente, que os funcionários negros são menos propensos a serem promovidos, sendo alvo de um controlo mais rigoroso por parte da gestão. Entre os cargos de bastidores, que não incluem contacto direto com o público, 68% dos empregados têm pele escura. Entre os entrevistados 54% identificam-se como latinos, 23,5% como negros e 13,5% como brancos, com uma percentagem significativamente inferior de asiáticos entre a amostra do estudo.
Um porta-voz da divisão americana da Zara condenou as alegações constantes do relatório e questionou os motivos do Centro de Democracia Popular, referindo que «a Zara USA veementemente refuta as conclusões do relatório do Centro de Democracia Popular que foi publicado sem qualquer tentativa de contato com a empresa. O relatório infundado foi preparado com segundas intenções e não por motivo de qualquer tipo de discriminação ou maus-tratos reais. Faz afirmações que não podem ser suportadas e não refletem a força de trabalho diversificada da Zara».
«A Zara USA acredita que o relatório é completamente inconsistente com a verdadeira cultura da empresa e as experiências de mais de 1.500 funcionários da Zara em Nova Iorque. Nós somos um empregador que oferece oportunidades iguais e se há indivíduos que não estão satisfeitos com qualquer aspeto do seu emprego, dispomos de vários meios para que eles levantem questões, que serão investigadas imediatamente e endereçadas», acrescentou o porta-voz da Zara.
«Cerca de metade de todos os funcionários da Zara USA é hispânica ou afro-americana. Na mais recente ronda de promoções internas na Zara USA, cerca de metade eram empregados hispânicos ou afro-americanos. Em acréscimo, cerca de metade de todas as horas são regularmente atribuídas aos empregados hispano-americanos ou africanos. Estes factos demonstram claramente que a diversidade e a igualdade de oportunidades são dois dos valores centrais da empresa. Somos uma empresa multicultural global que serve clientes em 88 países, e não tolera qualquer forma de discriminação», concluiu. 

Fonte: Forbes

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