A região francesa que alberga a cidade de Limoges produz mais do que porcelanas – é também um centro de produção de moda de luxo, do vestuário ao calçado, que serve algumas das mais conceituadas casas como Givenchy, Chanel ou Dior e prepara-se para disseminar esse know-how internacionalmente.
A região francesa de Limousin é mais conhecida pelas suas vacas bem nutridas, queijos fortes e porcelana fina. Mas é também casa de uma rede de artesãos de luxo, que produz desde vestuário a calçado e que quere agora exportar os seus artigos.
Apesar de uma experiência já com 30 anos, Bernard ainda demora três horas para acabar de coser uma costura, com as suas mãos a trabalharem na pele grossa com uma agulha e fio de sapateiro. Os sapatos que manufatura irão ser vendidos a 1.400 euros o par, um salário mensal para alguém que se está a iniciar no negócio de sapateiro. O seu empregador é o produtor francês de calçado de luxo J. M. Weston, que produz 80% do calçado em Limoges.
Bernard é uma das cerca de 860 pessoas empregadas pelo sector de artesanato de luxo em Limousin, que juntas produzem um volume de negócios anual de 97 milhões de euros.
Fundada em 1891, a J.M. Weston opera duas empresas de curtumes, com o objetivo de alimentar o know-how existente na casa, produzindo até a sua própria graxa.
A produtora de luvas Agnelle, com sede na cidade de Saint-Junien, em Limousin, é gerida por Sophie Gregoire, bisneta da fundadora da casa, e parte de uma família com tradição na produção de luvas que remonta ao século XI. Também esta empresa mantém toda a cadeia de produção dentro de portas.
A mãe de Sophie, Josie Leroyer, colocou a empresa no atual caminho em finais dos anos 60, quando convenceu a casa de moda francesa Dior a confiar-lhe a produção das suas luvas. A filha completou o trabalho, comprando de volta a empresa de família e «reintroduzindo os básicos da profissão: excelência, conhecimento e competências dentro da casa», explicou a chefe do atelier, Joelle Talbot. «Ela percebeu que um know-how único estava prestes a ser perdido», sublinhou.
Hoje, os clientes da empresa incluem a Givenchy, Marc Jacobs e Ralph Lauren. As suas 20 costureiras produzem cerca de 120 mil pares de luvas por ano, com completo domínio dos 30 passos do processo de produção.
Também com sede em Limoges, a produtora de vestidos C 2000 é uma das poucas empresas francesas especializadas numa técnica de confeção de alta-costura para peças fluídas, chamada “flou”, fornecendo a Chanel, Lanvin e Dior.
O seu diretor-geral, Bernard Blaizeau, está bem consciente da necessidade de alimentar o conhecimento das suas 32 costureiras, cujos salários representam a grande parte dos custos de produção, 70% do volume de negócios.
Assegurar que os seus conhecimentos são transmitidos à próxima geração é uma das principais preocupações. «Sistematicamente substituímos pessoas que se reformam e cada nova recruta é ensinada pela pessoa a quem vai suceder durante dois ou três anos antes da passagem de testemunho», revelou Blaizeau. «Cada novo elemento tem uma madrinha, que lhe ensina os princípios da alta-costura. É um grande investimento», acrescentou.
Juntamente com a área de Paris e a região de Rhônes-Apes, perto de Lyon, Limousin é uma das três regiões francesas com número mais elevado de empresas de base artesanal, aquilo que França descreve como empresas de «herança viva».
Para destacar o seu património, as autoridades regionais estão atualmente a criar um rótulo de luxo de Limousin, denominado “Dare to be diferent”, com o objetivo de enaltecer os seus artesãos e promover as suas capacidades.
«Precisamos de exportar para mercados emergentes com um forte potencial e capacidade financeira», argumentou o responsável do Conselho Regional de Limousin, Jean-Pierre Denanot. «Internacionalizar é crucial para mantermos as nossas artes vivas», concorda Blaizeau, que espera que as empresas locais possam aprender com o exemplo da J.M. Weston, que se expandiu para o estrangeiro com sucesso.
A câmara de comércio local já criou uma associação, a “Luxury and excellence in Limousin”, que reúne 13 empresas no topo do mercado. Alguns já entraram com sucesso na Rússia, China ou Arábia Saudita, indicou o responsável da câmara.
Fonte: AFP
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